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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Loucos Somos Nós.




O que é loucura?

Simples. É só procurar no Google, mas se tiveres real interesse leia um dos milhares de vade-mécuns de psiquiatria, aí verás que os verdadeiros loucos são aqueles que nos parecem normais. 


Porém, esta sociedade hipócrita e louca cria estereótipos para rotular de louco um sujeito normal, muitas vezes por não se enquadrar nesta hipocrisia.




Ainda no Segundo Império do Brasil, mais exatamente em 13 de maio de 1874, fora inaugurado em Porto Alegre (RS) o conhecido e enorme Hospital Psiquiátrico São Pedro, o conhecido Hospício São Pedro. Hoje tombado pelo Estado e Município como Patrimônio Público.


Verdadeiro depósito de homens e mulheres com problemas mentais. Fez-me lembrar do livro “O Alienista” de Machado de Assis, na verdade um hilário conto sobre um médico conhecido como Doutor Bacamarte.


Quando no ano de 1971, papai comprou uma bela casa no hoje, Jardim do Salso, belo bairro de Porto Alegre, com casas maravilhosas e até mansões, perto de tal hospício, jamais imaginara que uma cena triste e dramática aconteceria e o comoveria pelo resto da vida.


Era esta casa de muros baixinhos, cujos portões estavam sempre abertos, pois era uma época tranquila e pacífica, que com o tempo foram esses muros substituídos por grades altas e na lateral da casa que fica, pois ainda existe na esquina das Ruas Graciliano Ramos com a Abílio Azambuja um enorme muro papai mandou erguer.



Porém nesse tempo de muros baixos e portões abertos, seu acesso era mui facilitado.


Certa manhã mamãe estava na cozinha, cuja porta de saída  era na lateral da casa, tranquila como água de poço, preparava o almoço, com aquela porta aberta.


Num momento viu que alguém havia chegado à porta e nela permanecera parado.


Tranquilamente olhou e se deparou com um interno desse hospício, de uns 35 anos de idade, parado à porta olhando para o que ela estava fazendo.


Notou tratar-se de um interno do Hospício São Pedro pelo seu uniforme e estampado em seu rosto a sua doença mental que o corroía.


Calmamente aproximou-se da porta do corredor e baixinho chamou papai, que estava em um dos quartos no fundo da casa.


Papai era um índio mais desconfiado que sorro em noite escura e andava sempre armado. Porém, de sangue doce, não pegou sua arma e veio cantarolando atender o chamado de mamãe, achando que o almoço já estava servido.


Ao chegar à porta interna da cozinha, viu à porta que saía para o pátio o pobre e desequilibrado “ser humano”, e de imediato compreendeu o porquê mamãe o havia chamado daquela maneira calma, quase sussurrando.



Como papai havia há poucos anos se aposentado do Exército e homem que convivera em tropa por mais de 25 anos, sabia bem como tratar daquela situação. Aproximou-se calmamente do “louco”, sabendo que muitos são extremamente agressivos e violentos e com calma colocou sua mão direita no ombro do infeliz e perguntou com carinho:

- Meu filho, o que tu queres?


Para sua surpresa e dor no coração o infeliz homem olhou em seus olhos e quase chorando disse:

- Papai! Papai! Tu estás aqui? Que bom!

Meu pai com o coração apertado, emocionado e com muita dó, abraçou carinhosamente o pobre demente e fê-lo sentar em uma cadeira que pedira para mamãe trazer.


O pobre homem sentou-se ao lado da casa e com os olhos cheios de lágrimas continuava a repetir:

- Papai! Papai!

Uma dor profunda tomou conta de meus pais e mamãe apressou-se em servir um prato de boa comida e sob os olhares ternos de meu pai o pobre homem comeu, (obviamente com uma colher).


Após ter almoçado, papai convenceu aquele pobre cidadão, a voltar para o Hospício, no que foi prontamente atendido. E se foi o infeliz pela Graciliano Ramos a baixo, e a cada três ou quatro passos olhava para trás e repetia:

- Papai! Papai!



Sempre que meu pai contava esta história, seus verdes olhos enchiam-se de lágrimas e uma emoção muito grande tomava conta de seu coração. 


O louco, pobre e infeliz, provavelmente abandonado pela própria família, num momento ímpar teve pelo menos aquela alegria de encontrar o seu, talvez, imaginário Papai.




5 comentários:

  1. OI PROFESSOR!
    ÉS MESTRE MESMO EM CONTAR HISTÓRIAS E NOS EMOCIONAR.
    TEUS PAIS FORAM PESSOAS ESPECIAIS COM CERTEZA, POIS NUM MOMENTO EM QUE ALGUÉM MENOS SENSÍVEL SE DEIXARIA VENCER PELO MEDO, DEIXARAM ELES A VÓS DO CORAÇÃO E DO AMOR FALAR MAIS ALTO.
    UMA NARRATIVA REAL E LINDA.
    ABRÇS
    https://zilanicelia.blogspot.com.br/

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    1. Zilani Célia, redundante seria dizer o quão me sinto honrado com tua visita e comentário. Almejo que tudo esteja bem contigo e com os teus.
      Realmente meus pais foram especiais, tão especiais, que juntos permaneceram por pouco mais de 70 anos, num amor que os uniu ainda muito jovens. Um amor que todos sabiam o quanto era grande.
      Papai, homem de caserna, conviveu por mais de 25 anos com Soldados, Cabos, Sargentos e Oficiais de todos os tipos e sempre soube lidar com os mais diferentes problemas entre homens armados e como ele próprio de pavio curto. Mas sempre foi um homem educado, gentil e de boníssimo coração, assim como mamãe, a pequena grande fera, de fala mansa e sorriso maroto e de uma educação familiar exemplar.
      Foi este, um momento especial, tanto que todas as vezes que eu leio e releio o que escrevi, não nego, lágrimas surgem e meu coração aperta, assim como acontecia com papai. Infelizmente poucos são realmente humanos e tratam com desprezo quem, no entendimento deles, está abaixo.
      Feliz em tê-la em meu cantinho, até saudosista. Desejo que tenhas um belíssimo final de semana com muita saúde, paz e alegria.
      Cordial abraço.

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    2. Obrigada, amigo um ótimo final de semana junto aos teus. abrçs
      Zilani Celia

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  2. Bom dia, Pedrito, querido!

    Cocou, c´est moi (rs)! Saudade é apenas palavra portuguesa, então, é nossa.

    Espero e quero que estejam todos bem de saúde e felizes. Tempo bom, decerto por aí, em tudo ajuda. Aqui, tem estado solinho e frio menos agressivo. A humidade, hoje, ronda os 70%.

    A definição de loucura pode ser e é tão vasta, quanto podem ser os significados dela. E é bom termos nossas loucuras, pois vida parada, não rende, é como o dinheiro (rs).

    Gostei, li e reli os retângulos, que colocaste no seu distinto post acerca da loucura. Sabes que há loucos, que são felizes, a seu modo, obviamente, não prejudicam ninguém, não vigarizam, não são corruptos, não saem da Argentina, por exemplo, pra o Brasil, pura e dura realidade, e quase fazem vida normal? Os outros, "nós", que somos considerados normais, nem sempre somos felizes, é chatice e mais chatice, há k pôr "máscara" de vez em qdo e fingir que não entende. Ser cego, surdo e m udo. É a sociedade onde estamos inseridos, que a tal nos obriga, pois se a gente vivesse em "hospícios" abertos e sem grades, ah, tudo seria bem mais fácil.

    Teu pai, talvez mais taura que tu, e homem do exército, convivendo praticamente só com o homens, sabia colocar cada "coisa" no seu lugar, tal como tua avançada, corajosa e inteligente mãe. Se fosse preciso tiro, teus pais não hesitariam, mas se fosse preciso acolhimento, fraternidade, beijos, amor, mel interno e externo, então tb estariam lá, nesse campo humanitário. Isso já pra não falar de tua avó, paterna, creio, que aprendi a conhecer por um texto teu.

    Os olhos verdes de teu pai (acho os teus mto parecidos) continham esperança, bondade e afagos.

    Que tu família, passada, presente e futura continue nessa senda, de que só te trará orgulho.

    E a propósito de Loucura, ouve, se pretenderes, a fadista Mariza em "Loucura" e depois me conta sobre essa e outras loucuras.

    Beijos, um abraço enorme e com saudades.

    Bom domingo, bispando a porta ou janela, na esperança de ouvir o rodado dos carros dos filhos.

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    1. Bon après-midi, Céu.
      Je l'ai vu dans une nouvelle photo.(magnifique).
      Realmente SAUDADE é tão do nosso idioma que para ser explicada em outras línguas são necessárias várias palavras. E apenas ela, a saudade, diz tudo. Na verdade eu estava com saudade. Muita saudade.
      Loucura das loucuras, nada passa de loucura e não nos apercebemos que a vida corrida, tumultuada, laboriosa e repetitiva é uma verdadeira e trágica loucura.
      Como meu pai, vivi em tropa por alguns anos, mas como ele, eu não tenho os olhos verdes. Todos os filhos saíram com os olhos de mamãe, castanhos, sabendo que são os verdes recessivos.
      Meus pais formavam una pareja mui guapa, e os dois, apesar de seus boníssimos caráteres e constantemente de corações estreleiros, andavam sempre armados. Papai com o seu 38 niquelado na cintura e mamãe com o seu 32, preto como uma mamangava, na bolsa.
      Eram afetuosos e educadíssimos. Papai sempre com seu indefectível sorriso malicioso e carismático e mamãe com o seu habitual modo maroto ou brejeiro, formavam uma dupla sensacional, que apesar da alegria que irradiavam eram muito cuidadosos e precavidos. Viveram juntos por mais de 70 anos e se conheciam pelo olhar. Dois eternos namorados.
      Foi este um dos muitos episódios que sempre nos orgulhou, por suas posturas carinhosas e fraternas e deram aquele pobre homem um carinho, mesmo que por um pouco tempo, valeu mais que muitas caixas de remédios para sua insanidade.
      Obviamente hoje é aquele dia de coração cinchado à espera de um filho, como sempre, (provavelmente), Franco virá hoje à tarde, apesar de tê-lo visto na quinta-feira. Mas não vê-lo em um domingo para mim é muito triste e se ele não vem, vou para a cama e custo a dormir. Realmente passo à tarde de domingo bispando a sua chegada. Fábio andou viajando semana passada com Grasiela por lugares paradisíacos, aqui mesmo no Rio Grande e Monica hoje está compromissada com uma festa de amigas que todos os meses se reúnem para por a tagarelice em dia. Sandrinha está bem, apesar do susto que me deu há duas semanas, quando dentro de casa tropeçou em um degrau, caiu, bateu a cabeça e as costas em uma poltrona e de ñapa quebrou um ventilador. Passou dias com dores.
      Amada Cieliito, bom final de domingo e que tenhas uma semana maravilhosa, com muita paz e alegria.
      Beijos, cá desta Canoas que se prepara provavelmente para uma grande chuva (toró), já que nuvens brancas e outras carregadas e escuras navegam lentas, quase paradas, de oeste para leste, apagando o clarão do Sol que fazia pela manhã.

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